Carris promete nova rede e nova frota para retirar 150 mil carros por dia em Lisboa
A Carris adquiriu este ano 70 novos autocarros e, agora, com um investimento de 170 milhões de euros, prevê comprar, em 2023, mais 88 movidos a fontes renováveis. Desses, 30 são elétricos e já contam com o aval do Tribunal de Contas, 24 articulados a gás, 14 mini bus elétricos, outros 20 standard a gás e espera a chegada dos 15 novos elétricos articulados, que estão em fabrico em Espanha e vão passar a fazer a carreira do 15 na zona do chamado "arco ribeirinho".
A empresa conta chegar ao final do próximo ano com mais de 50% da frota sustentável e, até 2026, alcançar os 80%, com estes projetos que incluem a renovação de autocarros e substituição do diesel por gás e eletricidade.
A prestadora do serviço de transporte público urbano da capital portuguesa garante ter definido a mobilidade inteligente do futuro como a trave-mestre do plano de atividades para o horizonte 2023-2026, recentemente aprovado em sessão de câmara.
De acordo com estimativas que tem, com base no inquérito da mobilidade, só a Carris já retira cerca de 120 mil carros por dia da cidade, fora o resto do sistema público de transportes, e ambiciona chegar à retirada diária de 150 mil automóveis que circulam por Lisboa.
Para Pedro Bogas, presidente da Carris, "não é um conceito vago, mas sim, materializado nas diversas medidas que estamos adotar e assentam em dois pilares, a sustentabilidade e eficiência para melhorar a qualidade do serviço".
Para melhorar a informação aos passageiros, a Carris está ainda a desenvolver uma aplicação, já operacional, mas em fase de testes-piloto, para fornecer informação fidedigna sobre a circulação dos autocarros e no próximo ano conta ter outras valências, como acesso via telemóvel, ou acesso com cartão bancário contactless.
A empresa garante ainda que está a trabalhar para melhorar o acesso de pessoas com mobilidade reduzida aos veículos, estando a dar formação aos seus colaboradores e também a trabalhar no programa de transporte escolar para facilitar o acesso das crianças ao transporte público de autocarro.
O líder da empresa considera que, a nível económico, a autarquia deu grande ajuda com a gratuitidade dos passes para menores de 23 e maiores de 65 anos, que já engloba um universo de 66 mil aderentes. Desses, mais de 20 mil são novos clientes, podendo este número vir a crescer, se for concretizada a intenção do município de alargar a medida a outras faixas etárias.
A aposta nos recursos humanos também é dada como prioridade desta empresa, já com mais de 150 anos de história, tendo recrutado 100 novos tripulantes este ano e prevendo contratar mais 110 pessoas, oferecendo formação e a criação de uma academia, numa altura em que, ao todo, tem 2600 trabalhadores e conta, dentro de quatro anos, alcançar os 2800 empregados, o que a juntar às empresas participadas pode ultrapassar os três mil colaboradores no universo da empresa.
A Carris tornou-se ainda na primeira empresa de transporte público em Portugal a obter certificação do sistema de gestão de segurança rodoviária, estando a participar a nível europeu na chamada "Estratégica Europeia de Segurança Rodoviária Zero", que estabelece como objetivo chegar a 2030 sem acidente graves, com mortos e feridos, considerando que tem excelentes resultados neste domínio em comparação com outras cidades europeias, com índices de sinistralidade muito baixos e poucos acidentes com gravidade.
Em estudo estão ainda novos corredores "bus", novos sistemas tecnológicos que estão em piloto para novos sistemas, desde a prioridade semafórica ao varrimento dos corredores destinados a transporte público.
No próximo ano, a Carris quer iniciar a revisão da sua rede que já tem quase 15 anos e iniciar estudos para um projeto estrutural de criação de uma nova rede de autocarros, que será demorado, porque tem que ser faseado e trabalhado com as juntas de freguesia, visto que existem alterações que mexem com a vida e os hábitos das pessoas.
Além disso, requer análise sistemática, uma vez que Lisboa está com alguns condicionalismos, por causa das obras que estão a decorrer, desde o metropolitano, que vai requer ajuste da rede de autocarros às novas linhas do metro, mas também as obras do novo plano de drenagem que afetarão algumas zonas da cidade, o que torna o processo mais complexo, mas espera conseguir começar a implementar esse novo plano de rede em 2024.
Quando chegar a 2026, a Carris quer ter um crescimento de 23% da oferta disponível, numa altura em que está já a 93% da procura de 2019, no período pré-pandemia, e pretende chegar aos valores históricos da primeira década deste século e alcançar os 160 milhões de passageiros.
Apesar do aumento de 40% nos custos de contexto em 2022, espera fechar ao ano com um resultado líquido positivo e apesar de todas as incertezas no horizonte macroeconómico, estima, em 2023, alcançar um volume de negócios na ordem de 1,3 milhões de euros, afetado pelo forte ciclo de investimento previsto até 2026.
As garantias são deixadas por Pedro Bogas, presidente da Carris, numa entrevista à TSF, no espaço "Negócios em Português", emitida na íntegra no próximo sábado.