Ciberbullying está a aumentar e a 'deixar de rastos' centenas de crianças e jovens

Os últimos dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima indicam que são as crianças e jovens as principais vítimas de bullying, que acontece sobretudo na escola. A Internet espalha o fenómeno e torna-o mais perigoso.

E estes dados são um dos alertas que a semana anti-bullying, que decorre até domingo, quer fazer sob o lema "Faça barulho sobre o bullying". A ideia surgiu na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, através da associação Anti Bullying Alliance, e pretende que professores, pais e jovens reflitam sobre o assunto.

A psicóloga da APAV -- uma das associações em Portugal aderem a esta iniciativa -- caracteriza o bullying para uma melhor compreensão do problema, que afeta sobretudo crianças e jovens entre os 11 e os 17 anos, numa percentagem de 55,1% dos casos. "O bullying consiste em comportamentos de agressão entre pares e com uma continuidade no tempo. Depois, pode haver violência física, verbal, social e outro registo, que tem vindo a aumentar muito, sobretudo desde a pandemia, que é o ciberbullying e que perturba muito mais as vítimas".

É à Internet que, muitas vezes, vão parar vídeos de agressões entre jovens e até mesmo imagens de crianças ou adolescentes despidos ou em práticas de cariz sexual. "O problema torna-se muito maior, porque nestes casos em vez de haver apenas um ou dois espetadores da situação podem ser milhares", observa Patrícia Ferreira. "Há estudos nacionais e internacionais que dão conta, de facto, deste aumento do ciberbullying desde a pandemia e, nestes casos, a vítima fica ainda mais exposta e fragilizada. Pode até, em certos casos, deixar de querer ir à escola porque se sente extremamente triste e envergonhada e não tem coragem de voltar ao local onde foi agredida". Ao contrário, nos casos de bullying que ficam circunscritos a apenas um local, normalmente a escola, Patrícia Ferreira esclarece que depois de a situação acontecer "a criança volta para casa e sente que está num local seguro. Sente-se melhor e depois acaba por regressar à escola. Já com a dimensão que pode alcançar o ciberbullying, que toma proporções enormes e imprevistas, as consequências a nível psicológico são gravíssimas para as vítimas. E basta acedermos às redes sociais para verificarmos que, de facto, estas situações estão em ascensão".

As principais vítimas de bullying são as raparigas, com 51,1% dos casos. As agressoras são, normalmente, outras miúdas e, neste caso, as agressões são "sobretudo verbais e psicológicas". Entre rapazes "o bullying é mais físico", acrescenta a psicóloga da APAV.

O concelho de Lisboa é o mais afetado do país, segundo os dados do último relatório da APAV, referentes ao biénio 2020/22, com uma prevalência de 29,1% dos casos. Só neste ano, que ainda não acabou, já foram reportados à Guarda Nacional Republicana (GNR), em todo o país, 140 casos, que incluem bullying e ciberbullying.

Os casos de bullying acontecem "sobretudo em ambiente escolar e no segundo ciclo do ensino básico". Apesar de tudo, a maior parte das situações acompanhadas pela APAV "são de violência verbal. Mas, sem dúvida, que o ciberbullying é cada vez mais preocupante e estamos muito atentos a essa situação, no nosso país, mas também no resto do mundo", assume a psicóloga Patrícia Ferreira.

Do lado dos agressores, por estranho que possa parecer, o perfil é idêntico. "Normalmente, têm o mesmo tipo de características. Também têm baixa autoestima, por exemplo, e veem no bullying uma forma de exercer poder sobre os outros e, sobretudo, de chamar a atenção sobre si próprios. São, por norma, crianças com problemas de comportamento sérios e, elas próprias, precisam de ajuda". Por isso, Patrícia Ferreira aconselha os pais dos agressores a tomarem uma atitude, para bem dos seus filhos. "Devem procurar ajuda. Essas crianças também não estão bem, sobretudo em termos de gestão emocional e da frustração. É por isso que se geram estes comportamentos agressivos", conclui.

https://www.dn.pt/sociedade/ciberbullying-esta-a-aumentar-e-a-deixar-de-rastos-centenas-de-criancas-e-jovens--17345561.html

07/12/2024 17:18:08