Enfermeiras e parteiras no Reino Unido devem poder aprovar abortos, sugere estudo encomendado pelo Governo
Os contornos do aborto podem mudar no Reino Unido depois de um novo estudo sugerir que as enfermeiras e as parteiras também devem poder aprovar a decisão. O estudo foi encomendado pelo governo do país e pretende ajudar a atualizar a lei.
“A legislação sobre o aborto tem mais de 50 anos. Desde 1967, os avanços médicos e tecnológicos transformaram a forma como as mulheres acedem os cuidados que precisam. A lei precisa de ser atualizada com as opiniões e práticas do século XXI”, disse Kaye Wellings, co-líder do Sacha e professora de investigação em saúde sexual e reprodutiva.
O tema foi investigado por mais de 20 especialistas de sete países, que contribuíram para Shaping Abortion for Change (Sacha), o maior estudo sobre aborto no Reino Unido. No documento encontra-se a análise de mais de 700 médicos de clínica geral, parteiras, enfermeiras e farmacêuticos, além de entrevistas mulheres que tiveram recentemente um aborto. Além disso, realizou-se um estudo ao que acontece em países como a Austrália, Canadá e Suécia.
A principal conclusão do estudo é que os regulamentos devem ser alterados para permitir que enfermeiras e parteiras autorizem o aborto, prescrevam medicamentos para o aborto e realizem aspirações a vácuo [procedimento que utiliza uma fonte de vácuo para remover um embrião ou feto através do colo do útero]. O que acontece atualmente é que ainda são necessários dois médicos para autorizar um aborto, de acordo com a Lei do Aborto de 1967.
No estudo, 90% dos profissionais de saúde entrevistados afirmam que a decisão de fazer um aborto deve ser inteiramente da mulher, acrescentando que qualquer pessoa que queira fazer uma interrupção deve, sempre que possível, ter a opção de fazê-lo em casa ou numa clínica, qual procedimento e como receberá cuidados e apoio.
“O aborto é um dos procedimentos de saúde mais comuns, provavelmente experimentado por uma em cada três mulheres na vida. No entanto, no nosso estudo, quase nove em cada 10 profissionais de saúde que trabalham fora de serviços especializados em aborto disseram que a falta de treino era uma barreira para a prestação de cuidados. O aborto é uma questão de saúde e deve ser contemplado na formação dos profissionais de saúde”, recomenda Rebecca French, co-líder da Sacha e professora associada de saúde reprodutiva e sexual.
Respondendo às descobertas, Elizabeth Barker, co-presidente do grupo parlamentar de todos os partidos sobre saúde sexual e reprodutiva, afirmou que “nunca houve um momento mais importante para alinhar a provisão de aborto com a prática moderna de saúde”. “Espero que o governo considere como é que estas recomendações podem ser refletidas na política de aborto, no futuro.”