Os aviões caem em Agosto
“Não nos é permitido escolher a moldura do nosso destino. Mas aquilo que nele pomos só a nós nos pertence. Aquele que se aventura terá essa experiência – à medida da sua coragem. Aquele que se sacrifica será sacrificado – à medida da sua pureza de coração” Dag Hammarskjöld, segundo secretário-geral da NATO, que morreu num desastre de avião a 18 de Setembro de 1961
Num país sem monarquia, os Kennedy serão talvez quem mais próximo está de ser a família real da América. Desde que P. J. Kennedy se tornou no primeiro eleito para um cargo público em 1884 (senador estadual do Massachusetts), 35 anos depois da chegada ao Novo Mundo da família de origem irlandesa, que o apelido se tornou sinónimo de dinastia política nos Estados Unidos.
Mesmo assim, foram precisos quase 80 anos para que um deles se tornasse Presidente: John Fitzgerald Kennedy, a 20 de Janeiro de 1961.
Mas poderia ter sido mais cedo ou poderia ter sido outro a entrar na Sala Oval da Casa Branca. Isto se Joe Kennedy Jr. não tivesse morrido a 12 de Agosto de 1944, na explosão de um protótipo secreto de drone num voo experimental no Reino Unido na Segunda Guerra Mundial – o drone tinha de ser pilotado manualmente como um avião até determinada altura e Joe Kennedy e o seu co-piloto, Wilford Willy, tinham-se voluntariado para a tarefa.
Como muitas vezes acontece nas investigações a acidentes aéreos, mais ainda no passado, em que a tecnologia era mais rudimentar que hoje, a investigação da explosão foi inconclusiva e todo o projecto foi abandonado depois do acidente.
Com a morte de Joe, o pai Kennedy, que apostara no futuro político do filho mais velho, almejando a que chegasse ao cargo mais alto do país, resolveu passar todas essas esperanças/obrigações para o segundo filho, John, que foi obrigado a caminhar os passos políticos preparados para o irmão.
O que teria sido a América liderada por Joe Kennedy? A do homem que nos anos 1930 escrevia ao pai a elogiar Adolf Hitler por estar a incutir na Alemanha “um espírito” que deveria “ser invejado em qualquer país” ou a do piloto de guerra que já tinha visto o que esse “espírito” tinha feito à Europa e ao mundo?
Ainda esta quinta-feira, um fórum de organizações de defesa dos direitos humanos pedia ao Governo paquistanês para reforçar as leis que punem a violência contra as minorias religiosas, referindo-se ao recente ataque contra os cristãos na província paquistanesa do Punjab.
“Estes ataques levados a cabo por multidões evidenciam a contínua má utilização das leis da blasfémia no Paquistão, reforçadas na década de 1980 como parte do esforço de islamização do Estado durante a ditadura militar do general Zia-ul-Haq”, referiram as organizações, citadas pelo site católico UCANews.
Presidente do Paquistão durante quase uma década, depois de mais de sete anos como administrador da lei marcial que se seguiu ao golpe militar contra Zulfikar Ali Bhutto em 1977, Muhammad Zia-ul-Haq não era a pessoa mais amada no Paquistão. Pode até dizer-se que num país que nasceu sob o signo da violência (após a partição da Índia Britânica), em que os militares sempre tiveram um lugar privilegiado, havia mesmo quem o desejasse ver morto.
Quando o C-130 onde seguia se despenhou a 17 de Agosto de 1988, perto da cidade de Bahawalpur, matando todas as pessoas a bordo, incluindo o embaixador norte-americano, Arnold Lewis Raphel, a tese de atentado passou pela cabeça de muita gente. E ainda hoje, 35 anos depois, a teoria do atentado continua a ser defendida por muitos.
Em 2020, um dos filhos do general, Muhammad Ijaz-ul-zaq, em entrevista à agência de notícias turca Anadolu, não só continuava convencido de que o pai tinha sido assassinado, como à célebre teoria das caixas de mangas com explosivos juntava ainda outras duas: a de gás nervoso libertado no cockpit, que teria imobilizado os pilotos, e um projéctil que teria sido disparado contra o aparelho.
Citando a investigação do comodoro Zaheer Zaidi, Ijaz-ul-zaq defendia que “vários actos estavam preparados para assegurar que, se um falhasse, os outros fariam o serviço”. E que o general não escapava daquele voo fatídico.
Abdul Rahim Ghafoorzai, um diplomata de formação que tinha sido embaixador do Afeganistão nas Nações Unidas em representação do Governo comunista, mas que se empenhara a procurar apoios para expulsar as tropas soviéticas do seu país, tinha-se dedicado desde 1992 a tentar unir as diversas facções que haviam combatido com êxito o Exército invasor mas que não se entendiam sobre o futuro afegão.
Nomeado vice-ministro dos Negócios Estrangeiros em 1995 e ministro da mesma pasta em 1996, abandonou Cabul quando os taliban entraram na capital, instalando-se em Mazar-i-Sharif, onde o executivo reconhecido internacionalmente se instalou.
No Verão de 1997, depois de os taliban terem sofrido numerosas baixas, o Paquistão (que era dos poucos que reconheciam o governo dos "estudantes de teologia", até porque tinham sido os seus serviços secretos a formá-los e apoiá-los) defendeu um cessar-fogo, mas o executivo legítimo disse que não, queria a rendição incondicional.
A 11 de Agosto de 1997, o diplomata Ghafoorzai, numa reunião alargada de líderes políticos e militares antitaliban, foi escolhido para primeiro-ministro. Nos seus dois primeiros discursos, um em dari e outro em pashtun, anunciou eleições para seis a nove meses depois. E, com as forças do governo legítimo a três quilómetros da capital, Ghafoorzai e uma grande delegação viajaram para Bamyan para finalizar os acordos das forças opositoras.
Por volta das cinco da tarde de 21 de Agosto, o avião onde seguia a comitiva teve um acidente ao aterrar e o primeiro-ministro e mais 11 pessoas morreram. Em consequência disso, o comandante Ahmad Shah Massoud ordenou aos 20 mil homens que esperavam às portas da capital para não avançarem, o momentum esvaiu-se e os taliban só seriam derrotados quatro anos depois, com a invasão pelos Estados Unidos e seus aliados.
Nas mortes de estadistas em quedas de avião, por mais acidente que seja, haverá sempre quem não se convença da tese do acaso. Faz parte de nós, humanos, pensar em conspirações sem escrúpulos na luta pelo poder. Mais ainda quando as autoridades, por incompetência, omissão ou incapacidade, não conseguem chegar à conclusão taxativa de acidente.
No caso da morte de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e candidato a Presidente do Brasil nas eleições de 2014, a investigação policial praticamente abriu caminho a que a desconfiança se sobrepusesse à conclusão oficial de acidente.
Se não bastasse a inépcia da investigação, Campos morreu precisamente no dia do aniversário da morte do seu avô, Miguel Arraes, figura histórica da resistência à ditadura e também ele antigo governador de Pernambuco.
Nove anos depois da sua morte, o advogado António Campos veio agora a público dizer da sua intenção de reabrir o inquérito à morte do seu irmão, porque, segundo afirmou à Folha de Pernambuco, “o Brasil precisa saber a causa do acidente, se teve conotação política e se existe a real possibilidade de Eduardo Campos ter sido assassinado”.
No entanto, nestas coisas de desconfiar de acidentes, também é preciso manter sempre o pé atrás em relação a acções potencialmente idóneas de gente que garante querer apenas chegar à verdade. E é legítimo perguntar por que razão se lembrou agora António Campos, em 2023, de reabrir o processo da morte do seu irmão, levantando a suspeita de assassínio politicamente baseado.
Será uma manobra para desviar as atenções da denúncia criminal por corrupção apresentada pelo Ministério Público do Brasil contra Eduardo Campos?
De acordo com uma notícia de Abril da Folha de S. Paulo, o ex-governador teria recebido subornos da empreiteira Odebrecht (por trás do maior escândalo de corrupção brasileiro: Operação Lava-Jato) numa conta na Suíça aberta em nome de um tio. Os 771,5 mil reais de então valem hoje 4 milhões de reais, o que equivale a 775 mil euros, e ninguém os devolveu.