50 anos da criação do Movimento dos Capitães assinalados em Alcáçovas

A 9 de Setembro de 1973, um grupo de 136 jovens militares reuniu-se no Monte do Sobral, em Alcáçovas. Do encontro secreto viria a nascer o Movimento dos Capitães, crucial para a Revolução. 50 anos depois, a efeméride será assinalada, com música, lançamentos de paraquedistas e muito mais.

A evocação, que acontecerá no Monte do Sobral, marca uma nova fase nas comemorações do cinquentenário da Revolução.

«Iniciamos agora uma nova fase nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. A partir de 9 de Setembro – o dia em que, há 50 anos, 136 jovens militares se reuniram clandestinamente e fundaram o Movimento dos Capitães – vamos destacar, em vários momentos, o papel central que os Capitães de Abril desempenharam no caminho que levou ao derrube da ditadura», diz Maria Inácio Rezola, comissária executiva das comemorações.

«Esta é uma etapa fundamental na passagem de testemunho sobre a luta contra a ditadura e a construção da democracia que pretendemos levar a cabo sobretudo junto das novas gerações», acrescenta.

A reunião realizada a 9 de Setembro no Monte do Sobral assinala simbolicamente o início da conspiração e o nascimento do Movimento dos Capitães.

Há 50 anos, para evitar suspeitas, o evento foi preparado ao pormenor sob a capa de uma ?confraternização pelos jovens capitães ?Diniz de Almeida, Vasco Lourenço, Rosário Simões, Carlos Camilo e Bicho Beatriz.

O?objetivo prioritário do então designado Encontro de Évora era preparar um ato de repúdio que?obrigasse o Governo a rever dois diplomas promulgados nesse Verão na tentativa de minimizar o?problema?da falta de oficiais?nas?frentes de combate em África.

O primeiro, de 13 de Julho?(Decreto-Lei 353/73),?permitia?que a?formação da Academia Militar fosse substituída por?um curso?intensivo de dois semestres, encurtando?um processo?que?até então demorava quatro anos.

O segundo, de 20 de Agosto (Decreto-Lei 409/73), em resposta aos primeiros sinais de?contestação,?solucionava o problema da ultrapassagem?dos?oficiais superiores?(majores), mas mantinha a injustiça relativamente aos capitães e subalternos?do quadro permanente. Ao invés de acabar com a contestação, o diploma retificativo contribuiu para a?adensar.

No Monte do Sobral, decorreu um?acalorado debate. Discutiram-se?os problemas da classe e as consequências da aplicação da nova legislação. Os?presentes?decidiram-se pelo envio ao presidente do Conselho Marcelo Caetano, de um abaixo-assinado pedindo a revogação dos polémicos decretos-lei e ressaltando a questão do prestígio das Forças Armadas.

O?documento integrou as assinaturas dos 136 oficiais presentes, juntando-se a 51 que prestavam serviço na Guiné. Posto a circular,?recolheu ainda o apoio de cerca de três centenas de oficiais em serviço na?metrópole, 97 a?prestar serviço em Angola e 105 a prestar?serviço em Moçambique.

Em paralelo, os?organizadores do encontro ficam responsáveis por constituir a primeira?comissão do Movimento que,?depois de oito meses de intensa atividade conspirativa, a 25 de Abril do ano seguinte, poria fim a 48 anos de ditadura.

A cerimónia deste sábado tem início às 11h30, no Monte do Sobral, com quatro lançamentos de paraquedistas. Estes militares vão transportar os azulejos que comporão um painel evocativo a descerrar às 13h00.

Nesse momento, que contará com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, atuará o Grupo Coral dos Trabalhadores de Alcáçovas, cantando “Grândola, Vila Morena”, música de José Afonso escolhida como uma das senhas para o golpe militar que, em 1974, depôs a ditadura.

A partir das 16h00, em Alcáçovas, será inaugurado o Parque Infantil “Liberdade”. Às 17h00, terá lugar um Concerto da Jovem Orquestra Portuguesa, uma iniciativa da Orquestra de Câmara Portuguesa que se dedica aos jovens músicos entre os 14 e os 28 anos, selecionados em todo o país.

Esta evocação será realizada em parceria com a Associação 25 de Abril, com a Câmara Municipal de Viana do Alentejo e com a Junta de Freguesia de Alcáçovas.

As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em Março de 2022 e vão decorrer até 2026.

«Entendemos que as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril devem promover o conhecimento do passado e afirmar-se, em simultâneo, enquanto catalisador de uma consciência coletiva de cidadania, contribuindo para uma sociedade mais participativa, plural e democrática», acrescenta Maria Inácia Rezola.

O período inicial das Comemorações tem sido dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) serão revisitados, em iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.







07/12/2024 18:10:30