Justiça não tem castas

A SIC normalizou o preconceito em horário nobre. Uma personagem da novela “Vitória” sentencia que quem não paga Advogado está condenado ao “oficioso” – como se fosse leproso. Este estigma não é inocente; é uma ferida social que cola etiquetas, normaliza fronteiras, lança trincheiras entre “bons” e “outros”. O que a TV retrata, o público absorve – e alguns desistem de recorrer ao apoio judiciário.

Mas os factos contrariam o mito. Só na gestão administrativa do Apoio Judiciário, a Ordem dos Advogados assume anualmente cerca de 3 milhões de euros – sem apoio estatal. São 85 euros multiplicados por cerca de 36.000 advogados que defendem os mais carenciados sem esperar glória. E muitos advogados suportam ainda mais: pagam do próprio bolso as próprias deslocações nos processos. Trabalham anos, sem receber, pois os honorários só são pagos a final. O sacrifício é invisível, o compromisso, real.

Advogado é Advogado. Justiça não tem castas. Em democracia, todos contam. Dignidade não é luxo – é o princípio que nos mantém iguais perante a lei.

João Massano, Bastonário da Ordem dos Advogados

 

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14/11/2025 02:14:37